segunda-feira, 9 de junho de 2014

Diogo Batalha

Diogo Batalha nasceu em Lisboa algures no decorrer do século XX.



O Diogo fez sempre o seu percurso artístico ligado a música, nomeadamente na bateria.

Já tocou com grandes nomes da música portuguesa e uma vez lembro-me de o ver na televisão a tocar num anúncio do Jumbo! Isto prova algo que já temos vindo a abordar aqui no Artes e Tartes: as artes também têm um lado comercial e há muitas oportunidades nesta área!

Nesta entrevista demos a chance ao Diogo de ser Ministro da Cultura ou Educação e saber o que ele faria pela música em Portugal. As respostas foram muito interessantes e entre as medidas propostas estava uma que era acabar com programas do género "Ídolos"!

Avança para a política Diogo, tens o meu voto! 

Para ele a arte "é um processo criativo em que nas diferentes áreas (música, dança, escultura, pintura etc), o artista exprime de uma forma natural e intuitiva as emoções, ideias e o conhecimento dele próprio. É por isso único e diferente para cada obra."

Os seus artistas de referência são Prince, James Brown, Sting, Tower of Power, Bob Marley, Mikhail Baryshnikov e muitos, muitos mais. 



Hoje o Artes e Tartes homenageia este artista tentando compreender melhor as suas fontes de inspiração, percurso musical e sonhos! 

Artes e Tartes - Diogo, queres contar-nos um bocadinho como começou a tua ligação à música e mais em concreto à bateria? Quais foram as tuas maiores influências? Os pais ou a escola por exemplo?

Diogo Batalha - A música desde sempre esteve presente na minha vida. A minha mãe é Professora Catedrática em dança, e grande parte da  minha família tocava piano ou violino. Aliás o meu primeiro instrumento foi piano, mas desde muito cedo que acompanhava imenso a minha mãe em espectáculos de música e dança e sem dúvida que era a bateria que me deixava de boca aberta e de olhos vidrados. De qualquer forma o meu primeiro concerto foi na escola a tocar piano com 10 anos.

Depois disto num Natal, os meus pais ofereceram me uma aparelhagem e eu com os caixotes de cartão fiz a minha primeira bateria. Durante muito, mas muito tempo tive os caixotes cheios de fita adesiva montados em cadeiras no meu quarto onde tocava a acompanhar discos. Estava sempre a ouvir música. Passado uns tempos comprei a minha bateria por 40 contos e nunca mais parei.



Sem dúvida que a minha mãe foi a minha maior impulsionadora e quem me apresentou o mundo dos teatros, dos palcos, dos camarins, da música e dos espectáculos. Era o meu programa preferido…

AT - Fala-nos um bocadinho do teu passado e presente na música? Já tiveste alguma banda? Onde já tocaste? Andaste em alguma escola de música por exemplo?

Diogo - A uma dada altura decidi aprender mais a serio a tocar e tive a felicidade de começar a ter aulas com um dos maiores bateristas de Portugal que na altura tocava com o Rui Veloso. Estive vários anos a estudar com Manuel Costa Reis ao mesmo tempo que estudei e acabei o curso de Biologia na Faculdade de ciências da Universidade de Lisboa.

Até que em 1998 conheci um dos mais conceituados professores de bateria do mundo, o Michael Lauren, com quem comecei a estudar sempre que ele vinha a Portugal, ou sempre que eu ia aos Estados Unidos. Até que em 2001 decidi deixar as biologias e ir estudar a fulltime talvez,  para a mais conceituada escola de bateria do mundo, a Drummers Collective em Nova Iorque. Foi uma experiência incrivel e única, onde tudo aconteceu. A partir dai e mesmo já tendo tido bastante experiência como músico em Portugal de uma forma amadora, tornei me totalmente profissional.


Em termos de experiência como baterista já toquei ou gravei em Protugal e em diferentes paises com artistas como The Black Mamba, Melo D, Ciro Cruz, Sam the Kid, Yuri Daniel, NBC, Carlos Barreto, Da Weasel, Edgar Caramelo, Lena D´Agua, Sadao Watanabe, Ena Pá 2000, Mundo Complexo, Fúria do Açucar, Skalibans, Nuno Guerreiro, General D, Prince Wadada, Marcelo D2, Syrup, Wanda Stuart entre muitos outros.

Links para os trabalhos do Diogo:


https://www.facebook.com/pages/Diogo-Batalha/152880368087991

AT - Achas que o dom de tocar um instrumento nasce com a pessoa ou é tudo fruto do trabalho?

Diogo - Eu acredito que nem toda a gente tenha a mesma facilidade de tocar qualquer instrumento. Mas também sei que não há ninguém que seja um grande músico que não tenha passado anos a estudar muitas horas todos os dias independentemente do instrumento que toca para se tornar num grande músico. Acredito que o talento faz no final a diferença dos super craques para os muito bons músicos, mas todos eles passaram por um período muito, mas muito longo de estudo, dedicação, aprendizagem e que continuam a estudar imenso. 80% transpiração, 20% Inspiração.

Acho também que poderão haver instrumentos mais fáceis para começar a tocar, mas acredito piamente que para atingir um altíssimo nível de performance, todos os instrumentos exigem o mesmo esforço e dedicação ao longo de muitos anos.



AT - Hoje em dia, em Portugal, é possível viver-se só da música? 

Diogo - Eu acredito que com muito empenho, perseverança, dedicação, alguma sorte e talento se consiga viver da música em Portugal. Eu pessoalmente para além de tocar e para me ajudar financeiramente dou aulas e faço a programação musical de um hotel de 5 estrelas de Lisboa, mas não faço nada que não esteja ligado directamente à música. Fácil não é, mas é possível!!!!

AT - Se fosses ministro da cultura ou da educação em Portugal o que farias para melhorar o panorama musical português?

Diogo - Sem dúvida que eu penso que um país sem cultura é um país sem identidade, é um país ignorante, básico e torna se num país sem um dos pilares principais de um estado desenvolvido e com algo para contar. A cultura é um dos legados de cada país e nação.

Se fosse ministro com certeza que iria tentar arranjar forma de melhorar as condições dos artistas em Portugal.  Em relação à música em concreto acho que teria de haver incentivos fiscais para os músicos por um lado e para os bares, salas de espectáculos, hotéis etc, por outro para que pudessem contratar mais músicos profissionais (e não o amadorismo que se vê muito por ai) e assim aumentar quer o nível da música quer o nível de vida dos músicos em geral.

Acho também e como se vê noutros países da Europa, que a quota de música nacional nas rádios nacionais deveria ser por lei muito maior do que a actual. É vergonhoso que a maioria das rádios tenham menos de 10% de musica nacional nas suas playlists.




Em relação à educação é óbvio que deveria haver uma evolução maior nos programas do ensino da música das escolas públicas de acordo com as necessidades e com a evolução do ensino e da própria música. Para além disto é crucial que todos os professores de música, não só nas escolas publicas, mas em todas as escolas de música, sejam músicos (professores) realmente habilitados e preparados para ensinar ao mais alto nível. Só com um bom ensinamento se poderão criar bons músicos. Este ponto é crucial.

Por ultimo acho que proibiria todos e quaisquer programa tipo Ídolos e afins… É uma mentira e faz com que muitos cheguem a acreditar que entrar num programa desses, mesmo que o ganhem irá fazer com que tenham uma carreira brilhante cheia de sucesso. São raríssimos os músicos que saíram desses programas que tenham actualmente carreiras de sucesso. Saem de lá a pensar que são estrelas e simplesmente não sabem nada mas nada de música!! Aliás deveria haver um programa desse género que em vez de serem pseudo-cantores, os participantes, deveriam ser instrumentistas…passado 3 meses iriam ver o que conseguiriam fazer! É uma utopia, uma mentira…que invistam antes essas verbas em formação e em escolas de qualidade.


Uma das coisas que me irrita nestes programas é ver as famílias a dizer "aí o meu menino é muito jeitoso, é muito talentoso (são sempre muito talentosos), quer ser cantor desde menino" e os concorrentes a dizerem "sonho em ser cantor e músico desde criança, sou apaixonado por música desde sempre" e acham que é num programa que se vão tornar músicos profissionais cheios de sucesso!!?? Se gostam e queriam tanto e se realmente era um sonho, não faria sentido sair do conforto, lutar por isso e irem estudar música e perceber que as coisas não caiem do céu!!!??

AT - Por fim quais são os teus projectos para o futuro? Qual é o teu maior sonho em termos musicais?

Diogo - Neste momento e desde há 2 anos um dos grandes projectos que tenho, juntamente com o Michael Lauren é a “International Drum Academy”.



É uma academia que nasceu há cerca de 2 anos e que já tem mais que 220 membros. É uma academia que funciona em Lisboa, onde se ensina bateria ao mais alto nível, em que toda a gente é bem vinda e partilha o seu conhecimento e experiência. Temos membros desde os 6 anos de idade até aos 70 e níveis desde o iniciado ao mais profissional cheio de experiência. Fazemos Workshops todas as semanas com diferentes tópicos para além de programas custom e diferentes tipos de aulas. É sem dúvida um projecto do qual me orgulho muito.

Para além da academia estou neste momento a meio de um mestrado em performance em Jazz na Esmae no Porto (escolar superior de música e artes do espectáculo). Como músico continuo como freelancer e felizmente cada vez tenho tido mais trabalho, sobretudo de qualidade.

Em termos de sonho, sem dúvida que fazer uma digressão mundial (ou várias) com um artista de topo em termos mundiais. Desde o Prince, ao Justin Timberlake, Sting, Bruno Mars, Beyonce, Earth Wind & Fire aos músicos de Jazz como Herbie Hancok, Keith Jarret, John Scofield entre muitos outros.

Qualquer um destes panoramas seria um sonho.



Obrigado Diogo!

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