segunda-feira, 23 de junho de 2014

Ana Menezes


Ana Saraiva de Sousa Menezes nasceu em Oeiras em 1981.



Hoje o Artes e Tartes volta ao mundo da moda, depois de há umas semanas termos entrevistado Marta Leitão.

A Ana é Formada em Design Industrial com Especialização em Design de Moda.

O seu trabalho é uma lufada de ar fresco e uma inspiração. As respostas da Ana nesta entrevista juntam a simplicidade e a emoção com uma estratégia clara de abordagem ao mercado. Esta jovem estilista tem tudo para vencer porque aplica no seu trabalho algo que todos deveríamos aplicar também no nosso ofício: paixão!

Talvez daqui a uns anos tenhamos a sua arte exposta nas grandes passerelles e montras internacionais. Assim o desejamos!

Gosta de pensar a preto e branco e para já ainda não faz roupa para homem. Para quando Ana??

Para ela a arte é " toda a forma de expressão que tem a capacidade de transcender quem a vê/ sente/ ouve. Parece uma definição chata mas é mesmo o que sinto. É qualquer coisa que ultrapassa os limites da compreensão. Cada pessoa tem os seus limites e por isso cada pessoa tem as "suas" artes."
 
Os seus artistas de referência são Frank Lloyd Wright na arquitectura e também Balenciaga na área da moda. Para ela, trata-se de alguém que "explorou formas e volumetrias na moda como nenhum antes."



Recentemente também descobriu Beethoven. Aliás " o que é recente é o gosto por ouvir e querer ouvir mais. Aquela coisa do transcendente que falei há pouco, aplica-se aqui na perfeição."

Vamos então tentar perceber o que inspira a Ana, como se desenrola o seu processo artístico e quais os seus sonhos e projectos actuais.


Artes e Tartes - Ana, tens desenvolvido o teu trabalho na área da moda. Queres dizer-nos quais foram os teus maiores estímulos? Quem te incutiu o bichinho por esta área?

Ana - Acho que nasceu comigo. Fartava-me de rabiscar vestidos quando era pequena mas na altura de escolher o curso, achei que a Moda era uma escolha pouco abrangente. Comecei em Arquitectura e acabei em Design Industrial. Estas duas disciplinas são as que mais me inspiram nas minhas peças. Gosto de formas e de linhas, de volumes e geometrias. Coisas mais brutas, gráficas. 

AT - Sei que neste momento estás a trabalhar em dois projectos nesta área da moda, queres explicar aos nossos leitores em que consistem?

Ana - Criei o  Atelier By Ana Menezes há 7 anos quando cheguei de Madrid, onde estudei Design de Moda. 

No atelier dedico-me essencialmente a fazer vestidos de noiva e vestidos exclusivos por medida. Aqui cada projecto é único e desenhado para aquela cliente particular. As noivas é o que me dá mais gozo, adoro! Um vestido de noiva é muito mais um objecto que vai ganhando forma em cada prova (fase) e é completamente emocional. Tem que ser perfeito para aquela noiva, para aquele dia. Tem que ser "O Vestido"! Tenho noivas que só quando se vêm de vestido de noiva é que dizem "Eu vou mesmo casar...!" Parece que só naquela altura é que se fez luz e isso é muito giro de acompanhar.


O outro projecto é a BAM, que nasceu em Fevereiro.

É uma marca que pretende simplificar esta coisa da Moda. São peças simples mas sempre com um toque diferente que podem ser usadas em vários contextos. A ideia é que se possa usar cada peça em modo relax e em modo trabalho. Simplificar é aqui a palavra de ordem. Costumamos dizer que as clientes têm que "BAM it" ou seja, dar outra utilização às peças BAM. Usá-las ao contrario, arriscar e fazer misturas arriscadas são as sugestões.



Como vês, são dois projectos quase opostos. Se no atelier trabalho a parte da exclusividade e concepção de peças únicas, muitas vezes mais "fora", na BAM tento responder a todas as pessoas que se identificam com a marca. Um lado de pronto-a-vestir embora numa escala mais pequena.



Links para os projectos da Ana:

 www.facebook.com/goesbam

instagram.com/bamgoesinstagram

AT - Como se desenrola o teu processo artístico, desde o momento em que tens uma ideia até aparecer um vestido por exemplo? Lembro-me de há uns anos ver uns desenhos de uns vestidos teus muito bonitos. Como se desenrola todo esse processo, tendo em conta os custos, materiais, desejos do cliente, etc...

Ana - O processo tem várias etapas e o objectivo é que seja personalizado e eficaz.

O mais importante de tudo é a primeira conversa que tenho com a cliente. Muitas vezes não as conheço e naquele espaço de tempo tenho que lhes "tirar a pinta" para conseguir desenhar um vestido com que elas se identifiquem. 

Se se identificarem com o projecto que lhes envio, a confiança em mim cresce exponencialmente. 

Uma vez aprovado o projecto e o orçamento, começam as provas. É um processo em que as clientes acompanham todas as fases. Primeiro prova-se o forro do vestido, onde se consegue ver a forma do vestido e como vai assentar. Aqui definem-se os tecidos e ajustam-se cores. Depois seguem-se mais uma ou duas provas em que o vestido vai crescendo até ser fechado e entregue!



AT - Como definirias o teu estilo? Gostas de fazer peças práticas? Luxuosas? Simples? Só com materiais Portugueses? Com cores? Só para mulheres? Ou seja qual é a tua linha de concepção, enquadramento e pensamento quando estás a criar? Segues a tendência ou crias a tua própria tendência?

 Ana - Achei piada à pergunta "Com cores?" Porque na verdade penso nas coisas a preto e branco! Acho que estas duas cores são imbatíveis. Mas as cores existem e as pessoas gostam de usá-las, por isso depois "pinto" as ideias originais.

Em relação ao meu estilo diria que é muito gráfico, muito clean. Gosto de linhas simples mas com formas definidas. Não sou de coisas cheias de detalhes nem acessórios. Gosto de coisas puras, que vivem por si só.



Só para mulheres? Desculpa mas acho que sim! Os homens são uns chatos neste campo, acham que tudo o que é diferente é menos másculo (Sorry!).



(Nota da Redacção: Este senhor gosta de coisas diferentes!)

As tendências estão sempre presentes, ainda que inconscientemente. Não lhes presto grande atenção e as vezes até fujo delas para manter a originalidade. Para mim, as verdadeiras tendências quando saem cá para fora já estão ultrapassadas. A grande questão é estar à frente delas e isso consegue-se com sensibilidade e feeling.

AT - Para além da moda, qual é a tua relação com a arte? É algo importante na tua vida do dia-a-dia?

Ana - É essencial. Sou muito observadora e registo tudo o que me chama a atenção. Vivemos rodeados de arte. É uma questão de se estar atento.

AT - Por fim, quais são os teus maiores sonhos em termos de carreira profissional? Sem quaisquer filtros ou limites, onde gostarias mesmo de chegar?

Ana - Eu gostava que a BAM chegasse mesmo longe. Gostava que as pessoas a reconhecessem e já não conseguissem viver sem ela. Que a vissem não só como peças de roupa mas como uma instituição, uma nova maneira de vestir.

Nesta fase, a BAM já teria linha de joalharia, sapatos, linha de Homem e de Criança! Disseste que era sem filtros... :)

  

Obrigado Ana!

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