segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Arte contemporânea no Irão.

Uma pequena amostra de uma exposição de arte contemporânea realizada em Teerão, Janeiro 2019.

Ultra-realismo, símbolos persas e mensagens subliminares.

A arte ao serviço da critica e da livre expressão de um povo.

Na arte não há leis nem regimes. Na arte a liberdade é infinita.








Até o pequeno Vicente ficou extasiado com a exposição.


Escultura do Primo Pooya presente na exposição. Um dos maiores artistas do Irão moderno.

"I am conscious of spaces and what remains inside them… the remainders of an object or a tale.
I observe the things that are bound to be in disguise.
I veil the tale and hide it somewhere secret.
“The Red Witness” is the remnant of a distant incident.
It narrates the tale of another existence.
The decoding of the tale is concealed within the twists and turns of the lines and reflections of the mirrors.
To me, “The Red Witness” is the image of a living creature which has emerged, and has become evident today."






















sábado, 7 de março de 2015

Tran Tuan


Tran Tuan é um jovem Vietnamita de 33 anos.  


Conheci-o quando estive em Ho Chi Min, no Vietname. 

Num dia em que aluguei uma mota e decidi aventurar-me nos subúrbios artísticos do Distrito 11.

Ao chegar a uma das galerias que procurava, ela estava fechada. 

Mas na parte de dentro, por detras do portão, estava um jovem a mexer num telemovel.

Ele informou-me que neste momento a galeria já não funcionava mas que servia de albergue a alguns artistas.

Este rapaz chamava-se Tran Tuan.

Questionei-o imediatamente se podia ver o trabalho dele.

Ele disse que sim. 

Fui ao seu estúdio e fiquei a conhecer uma das historias de inspiração artistitica mais fantásticas ou trágicas que vi ate hoje. Como lhe queiram chamar. 

Perguntei-lhe se o podia entrevistar para o Artes e Tartes e ele concordou. A primeira entrevista neste blog feita a um artista estrangeiro.


AT - Olá Tran, quando visitei o teu estúdio em Ho Chi Min fiquei particularmente fascinado com o trabalho artístico que desenvolves à volta do Dedo Indicador, o dedo que aponta. Queres explicar a história por detrás destes trabalhos?


TT - Neste momento todo o meu trabalho criativo está direccionado para a forma do dedo indicador. 

Faço todo o tipo de objectos em forma deste tipo de dedos. Na sua produção utilizo materiais raros ou de luxo como couro, pele de crocodilo, cabelos ou mesmo ouro. 

(Nas fotos abaixo vemos algumas fotos de sofas ou outros objectos comuns).





O objectivo é criar peças com um aspecto opulento, que parecem pertencer a alguém poderoso ou abastado.

Com este trabalho, o pretendo oferecer uma perspectiva da história presente e passada da minha família.

Na altura da guerra do Vietname, o meu avô, o meu pai e os meus tios cortaram o dedo indicador a eles próprios. Auto-mutilação. Assim não seriam aceites no exército.

E deste modo não podiam disparar armas e não tinham de matar os seus compatriotas...

Para mim o dedo indicador é um símbolo de poder. Quando se aponta para alguém ou numa direcção. 


Por vezes muitos milhares e milhões sofrem à custa de um só dedo. Este dedo pode mudar o mundo.

 

Junto envio links de uns artigos de jornal sobre o meu trabalho:

http://www.surfaceasiamag.com/read-news-8-0-915-tran-tuan.surfaceasia.magz#.UoeoQ3BHCI8

http://hanoigrapevine.com/2012/03/hue-exhibition-altered-cloud/
 

http://www.singaporebiennale.org/artist_tran_tuan.html

 

AT - Existe algum tipo apoio para os artistas no Vietname?

TT - No Vietname, os artistas têm algumas hipóteses de receber apoios. Não é fácil mas por vezes consegue-se através do governo, organizações independentes e algumas galerias privadas.



AT - Quando é que soubeste que querias ser um artista? Qual foi a razão? E quais são as tuas principais fontes de inspiração?

TT - Decidi ser um artista quando comecei a estudar arte na faculdade. A razão porque decidi seguir este caminho é porque tenho muitas histórias para contar sobre o Vietname. Histórias de hoje e do passado.


Obrigado Tran!


P.s. Outro trabalho que me impressionou no portfólio do Tran foi umas instalações gigantes que ele fez na cidade de Hue no Vietname.


Estas instalações tinham a forma de umas lulas gigantes e eram cinzentas. Ele colocava-as junto a rios ou mesmo dentro de água.

O objectivo deste trabalho era sensibilizar as pessoas para os problemas ambientais no Vietname, nomeadamente a exploração desenfreada de alumínio por parte dos Chineses, que anda a matar muitas espécies e a destruir ecossistemas inteiros.  


terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Mário Cotrim

Mário Cotrim nasceu algures em Portugal em 1991.


O Mário, ou Profjam como a determinada altura se auto-baptizou, é um rapper. Um rapper com o dom da palavra e muitas ideias interessantes.
Para ele não existem não-artistas. Toda a gente é um artista. O Artes e Tartes partilha a 100% desta visão! Bravo!

Para ele é difícil escolher 3 artistas de referência mas aponta como alguns dos seus preferidos Malcolm McCormick (foto abaixo), Erick Elliott e Saul Williams.


 
Para ele a arte é “A pressão que torna a impressão em expressão, expressão essa que por sua vez causará novas impressões. Perpetua-se assim o ciclo infinito da inspiração artística, que, a meu ver, começa com a criação.”

Hoje o Artes e Tartes apresenta uma entrevista com o Mário aka Profjam. Uma entrevista esclarecida e que mostra que há jovens artistas portugueses a desenvolver um trabalho bom e sério. Não percam os dois links que são apresentados no post. Um teledisco e uma battle de rappers no coliseu verdadeiramente épica!


AT - Olá Mário, queres explicar aos nossos leitores em que áreas artísticas tens desenvolvido o teu trabalho? No fundo, sei que tens uma ligação à música, mas quais são os outros interesses artísticos, ou seja artes que gostes, que já tenhas praticado ou que ainda sonhas vir a praticar?
Mário - O meu trabalho artístico consiste em fazer rimas ritmadas acompanhadas de instrumentos ou do silêncio e executá-las com a minha voz. O chamado Rap. Adoro fazê-lo porque me sinto um turista dentro do meu próprio mundo, nunca sei o que me vai sair quando começo um novo poema. Eu nunca sei para onde vou, mas tem piada porque sei sempre quando já cheguei, ou seja, quando o poema chega ao fim.
A minha paixão primária é sem dúvida o processo criativo em si, e nesse sentido sou mesmo um apaixonado por todas as formas de arte.

AT - Tu tens um projecto musical chamado Profjam. Queres contar-nos um pouco da história deste projecto? Como começou? Em que consiste? Onde estás agora em termos musicais e para onde vais? 

Mário - ProfJam nasceu com um auto-baptismo. A certa altura da minha vida decidi ser o ProfJam. Parecia que dar um nome à parte da minha pessoa que se focava a rappar fazia sentido. Eu via isso acontecer com outros rappers, que abandonavam o seu nome para se expressar num outro, portanto fez sentido desde o início. No fundo, tornar-me no ProfJam é que me tornou num rapper, porque eu escrevia rimas e poemas e o Prof era rapper, o que era muito diferente para mim.

Link para o teledisco: https://www.youtube.com/watch?v=LCKkcarhypU

Quanto ao meu projecto é continuar a desenvolver essa criação. Porque a seguir ao baptizado há que pôr o puto na escola, e fui isso que fiz e ainda hoje faço. Na verdade eu fiquei Prof porque os professores trabalham em escolas e estudam para o resto da vida. Aperfeiçoam a sua maneira de comunicar as lições e aprendem muito mais do que quem apenas foi aluno. Um bom professor é obrigatoriamente um bom aluno, porque se não o fosse não poderia aprender a ser um bom professor.

O próximo passo na minha aprendizagem é a produção musical também. Sinto a necessidade de me instruir tecnicamente para poder criar e comunicar mais ainda.


AT - Lembras-te do momento em que te apercebeste que tinhas uma sensibilidade artística? Foi na escola? Foi em casa? Grupo de amigos? Achas que as pessoas já nascem artistas ou faz tudo parte das influências a que somos expostos?
Mário - A minha noção de arte parte da visão interna de cada um. Existem muitos artistas sem nenhum trabalho feito, que nem sequer discutiram as suas ideias com ninguém. Mas elas existem. Numa dimensão não acessível aos outros, mas são reais na mesma. Depois poderão, ou não, materializar-se: desenhando, vocalizando, dançando…

Nesse sentido, eu creio que não possa existir alguém não-artista. Acredito na emancipação do artista interior, que toda a gente, mesmo a que ainda não sabe, é artista. Depois pode ou não haver a capacidade de produção da ideia, a tal materialização, devido a uma falta de apetência ou somente de instrução técnica. Pegando num exemplo ilustrativo relativamente a capacidades, nem todos somos Nash’s ou Einsteins, mas qualquer um de nós calculará 2+2 com a devida instrução matemática.

O mesmo se pode aplicar ao desporto, nem todos podemos ser o CR7, mas toda a gente beneficia se praticar uma futebolada com os amigos.

 Link para a batalha de rappers épica no Coliseu dos Recreios: https://www.youtube.com/watch?v=3Z_X0B2kZRw
 
AT - Com que artista (vivo ou morto) gostarias de jantar e porquê?
Mário - Ia ter de ser com um génio literário como Eric Blair (George Orwell) ou Aldous Huxley (foto abaixo). São simplesmente assombrosos nas suas obras e penso que seriam pessoas que me poderiam ensinar muito e com quem poderia conversar durante 4 jantares.

 

AT - Por fim, o Artes e Tartes sabe que neste momento vives em Londres? Qual tem sido a tua ligação com a cultura Inglesa? E qual é a tua opinião sobre a situação cultural no Reino Unido no presente?

Mário - Ainda estou muito recente aqui. É difícil fazer um retrato fidedigno à cultura inglesa em apenas uns meses mas posso adiantar que me revejo em muitas maneiras de estar deles e que não sofri grandes choques culturais.
O maior deles foi a mistura cultural que podemos encontrar aqui, o que para mim é um sinal mais, porque acredito que a partilha cultural obtenha excelentes resultados a unir os povos. Pode se viajar pelo mundo todo apenas passeando em Londres.
A nível de cultura e não a nível cultural agora, posso dizer que é realmente um poço dela, basta dizer que os autores que referi na pergunta anterior são Britânicos. :)


 

Obrigado Mário!

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Lucien Freud

Lucien Freud nasceu em Berlim, Alemanha em 1922.


Lucien era neto do famoso psicanalista Sigmund Freud.



Os seus pais eram judeus, e em 1934 emigraram para Londres com o objectivo de fugir da ascensão do regime Nazi na Alemanha. A partir daqui Lucien tornou-se um cidadão britânico.

Lucien Freud era pintor. Ele frequentou a Central School of Art em Londres.Também frequentou a Cedric Morri's East Anglian School Of Painting and Drawing em Dedham e a Universidade londrina de Goldsmiths de 1942 a 1943.

Na primeira fase da sua criatividade e inspiração os seus trabalhos foram mais associados com a corrente surrealista.

Mas foi a partir de 1950, com cerca de 30 anos que começou a pintar retratos expressionistas. Foi nesta área que acabou por se notabilizar.


Lucien era uma pessoa bastante carismática. Segundo relatos dos seus conhecidos e família, ele tinha bastante energia e uma forma de estar muito própria. Enchia uma sala como se costuma dizer. Mas no que toca à imprensa era uma pessoa bastante reservada preferindo não se expor.

Os seus quadros são um hino à arte. Ele pintava as pessoas de uma forma bastante peculiar. Com muito detalhe, emoção, fisicalidade e expressão. Por vezes demorava cerca de 1 ano a terminar um retrato!



Pintava as pessoas que viviam no seu mundo. Amigos, conhecidos, familiares e amantes. Por vezes pintava as suas caras. Noutras o corpo inteiro. Algumas das suas composições mais famosas são nus deitados. Entre algumas destas composições de nus encontram-se as suas filhas (quando já eram maiores claro!)


Diz quem posou para ele que era uma pessoa bastante afável durante a altura de pintar. As pessoas tinham que ficar quietas durante períodos de 2 ou 3 horas, cerca de 3 vezes por semana, às vezes por 1 ano! Durante estas horas, Lucien cozinhava manjares deliciosos, aquecia a casa e fazia tudo o possível para que os modelos se sentissem à vontade.


Segundo ele, "Eu pinto gente, não pela maneira que elas se parecem, não exactamente a despeito do que elas são, mas como elas por acaso se parecem."

A sua técnica de pintar era extraordinária. Usava impastos (grandes quantidades de pinta onde se vê a marca do pincel), com uma destreza única limpando o pincel a seguir a cada pincelada. A maneira como o fez é única. É impossível confundir um quadro deste artista!

Chegou a fazer um retrato à vista da Rainha de Inglaterra que também teve de posar sentada para ele (sentada numa cadeira claro!).

 
 
Morreu em Julho de 2011 com 88 anos.

Obrigado Lucien!

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

O processo técnico na pintura

Bom ano de 2015 para todos com muitas Artes e Tartes!

Hoje o nosso blog regressa com algumas reflexões sobre o processo técnico na pintura.

A pintura é uma arte que inclui uma vasta imensidão de técnicas e processos.


O processo que determinado artista usa para executar as suas telas é muitas vezes considerado a própria arte em si.

Ou seja, mais que o resultado final, a maneira como o trabalho é executado também representa arte. Isto acontece quando o processo é inovador, diferente ou por exemplo de extrema dificuldade de execução física.

Temos por exemplo o caso de Frida Khalo, que pintava deitada numa cama. Um acidente que lhe limitava os movimentos levou-a pintar desta maneira.


Do outro lado havia Jackson Pollock que pintava com um pau atirando tinta para as telas, sem nunca tocar nas mesmas. Ele afirmava que não era só atirar tinta com um pau. Foi uma técnica que demorou muitos anos a aperfeiçoar.


Do lado dos materiais em si temos dezenas de opções. Pintura a óleo, acrílico, aguarela, lápis de cor, carvão, pastéis de óleo, etc cada técnica com vantagens e desvantagens. O óleo demora mais tempo a secar mas permite fundir melhor as cores. O acrílico seca mais rápido mas as cores parecem não ter tanto brilho ou plasticidade.



Depois há quem faça colagens. De jornais, objectos ou meras folhas recortadas como Matisse por exemplo. Uma junção de tintas e objectos vários.


Em relação ao suporte também se pode optar por diversas opções. Antigamente os grandes mestres usavam mais as telas de linho. Estas tornaram-se mais caras e as de algodão são as mais utilizadas actualmente.

Mas na verdade pode pintar-se no suporte que quisermos: em madeiras, em panos, em pedras, etc Até se pode comprar telas gigantes de vários metros e ir cortando telas à medida que mais convém. Depois pode aplicar-se uma grade de madeira e fazer uma tela comum.



Há quem goste de aplicar um primário de gesso nas telas para que esta não absorva tanto a tinta.  Também é comum ver-se umas pequenas peças de madeira que se colocam nos cantos da tela para poder esticar o pano.

Há quem prefira pintar à vista. Outros por fotografia. Há quem use cavaletes e outros arranjam soluções mais engenhosas. O facto de se colar a tela na horizontal ou na vertical também tem implicações no processo.

Depois ainda há serigrafias, estampagens, projecções, colagens, etc

Até a maneira como a tinta é misturada pode diferir.


Desde a paleta mais comum até experimentar misturas de tintas na parede como Francis Bacon fazia.


A qualidade dos materiais parece ser um importante factor a considerar: materiais mais caros permitem normalmente melhores execuções e resultados, seja porque são melhores pinceis ou tintas compradas fora dos chineses!

Ou seja, há dezenas de variáveis que combinadas entre si podem dar diferentes resultados! O artista deve experimentar o máximo possível para poder perceber em que técnica se sente mais à vontade e mais importante: a que mais gosta e que lhe permite ao mesmo tempo comunicar a sua mensagem e sentimentos.

Em jeito de conclusão, o processo técnico na pintura é um desafio enorme para o artista. Ele(a) deve abraçar este desafio de forma aberta, sem preconceitos e com persistência. Desta forma, na altura em que a inspiração vier, ele(a) estará melhor preparado para dar asas à criatividade.