segunda-feira, 12 de maio de 2014

Frederico Campos Costa

Frederico Campos Costa nasceu em Lisboa em 1980.



O Fred, como os amigos lhe chamam, nasceu a 29 de Fevereiro.

Por isso, em 2012, ele voltou a levar com a piada “Ah então só fazes 8 anos!” De 4 em 4 anos ele leva sempre com a mesma graçola.

E nos outros anos, ninguém sabe quando lhe dar os parabéns: a 28 de Fevereiro ou 1 de Março?

Artista sofre... mas como ele é músico, talvez o seu próximo álbum se possa chamar bissexto!!

O Fred tem um talento imenso para a música. Ele sempre foi o nosso amigo com a guitarra que tocava tudo de ouvido. Mas nunca foi aquele maluco com autocolantes na guitarra que tocava repetidamente o mesmo reportório.

Consegue tocar aquilo que ouve e fá-lo com uma elegância só ao alcance dos grandes mestres. A sua paixão pela guitarra e técnica utilizada fazem lembrar Mark Knofler, Eric Clapton ou o grande Paco de Lucia.

Formado em Gestão pelo ISEG, optou por seguir a carreira artística na área da música.

Pare ele a arte “é um modo de poder expressar ideias que fazem parte do universo das emoções e sentimentos. É algo que sai de dentro de nós e que pode e deve ser partilhado. É algo que acrescenta e não tira. É algo que tem a capacidade para mudar o mundo e sensibilizar as pessoas.”

As suas 3 grandes referências artisticas são Prince, Daft Punk e Chromeo.



Hoje o Artes e Tartes homenageia o Fred, tentando compreender melhor o seu percurso e trabalho actuais.

Artes e Tartes - Fred, a arte onde tens desenvolvido mais o teu trabalho é na música. Lembras te quando começaste e porquê?

Fred - Comecei o meu trabalho "mais sério" a partir de 2004 com um projecto de hip hop chamado Junior (que já foi entrevistado no teu blog), projecto esse feito com a maior das inocências e entre amigos. Ganhamos um concurso de "bandas de garagem" a nível nacional patrocinado por uma operadora de comunicações, e assinamos um contrato de 5 anos e 3 discos com uma editora major. Perdemos a dita inocência e a piada da coisa quando assinamos esse contrato.

Este foi o início para começar a levar isto mais a serio... mas desde os meus 10 anos que tive bandas e era aquele gajo que levava a guitarra para a escola. O porquê de ter começado prende-se talvez com a necessidade e paixão que tenho em compor e produzir música.



Compor e produzir são duas coisas diferentes. Toco guitarra desde os meus 8 anos...mas só produzo desde os 22. Se não fosse o meu irmão provavelmente nunca teria despertado o bichinho pela produção, pois na altura (2002 ou talvez antes) ele sacou um programa chamado Fruity Loops que me permitiu começar a descobrir o prazer que é gravar , registar e produzir as minhas ideias.



E a paixão por isto nasceu...

Ás tantas apercebi-me que podia realmente fazer algo sem depender de alguém. Percebi que podia gravar uma ideia de guitarra, depois acrescentar um beat, uma linha de baixo e que pouco tempo depois tinha um som feito.

Sou 100% auto didacta tanto musicalmente como tecnicamente, mas a determinada altura resolvi aprofundar os meus conhecimentos técnicos e após concluir a minha Licenciatura em Gestão pelo ISEG, fui viver para Londres onde tirei o curso de engenharia de Audio pela SAE.

Optei por esta vida, ao invés de uma vida profissional de escritório de fato e gravata (apesar de adorar vestir fato e gravata hehehe) porque é isto que me preenche e completa, é daqui que retiro parte da minha felicidade e é neste meu mundo que me perco e encontro e que nunca me deixa ficar mal.

Vivi sempre com o medo de chegar a uma idade mais avançada e olhar para trás e pensar "Porra...adorava ter feito isto, devia ter feito aquilo..." Por isto mesmo resolvi seguir o meu sonho.

AT - Tu és um artista por profissão, ou seja para além da música representar um hobbie, também já conseguiste chegar ao mercado com o teu trabalho. Em que áreas já trabalhaste e trabalhas actualmente seja a solo, grupo ou para terceiros? E como arranjas tempo para todos os teus projectos?

Fred - Actualmente sou produtor musical e sound designer na RFM.

Antes disto trabalhei como sound designer noutra rádio. Também fui produtor de uma empresa de gravação de dobragens e locuções na qual tinha a meu cargo a chefia de uma equipa de técnicos e executei alguns trabalhos de freelancing num estúdio que pertence ao Ramon Galarza, o Tcha Tcha Tcha.

Nos últimos 4 anos em que trabalho na RFM entro ao serviço as 6 da manhã e saio as 2 da tarde! Para alguém que em média se deitava as 3 da manhã, este horário passou a ser o meu bem mais precioso. Nem é o ordenado que recebo, mas sim o horário! Posso sair às 2 da tarde, e ainda tenho o dia pela frente para trabalhar no meu estúdio, trabalhar e colaborar noutros projectos, no verão dar um saltinho à praia, poder ir buscar o meu filho e passar tempo com ele, ginásio, etc

Actualmente tenho o meu projecto chamado Cut Slack, que defino dentro do género de Electro Funk. Estou também a misturar um album de Hip Hop, a compôr uma faixas para uns artistas emergentes no panorama da musica nacional e ainda a montar a minha empresa de produção para publicidade, a Sweet SpotPara além disso ainda estou a pensar montar uma editora independente de musica e a acabar a fase de composição do meu álbum, que espero que saia ainda este ano!


Já trabalhei em publicidade, produzi uma banda sonora com o Frankie Chavez para o filme da ZON "North Canyon" sobre a onda gigante da Nazaré e o maluco do Garett Mcnamara e já compus e produzi para vários artistas que depois editaram esses trabalhos.

Mas o meu horário e organização do mesmo é a parte mais importante na minha profissão. Com um horário normal jamais poderia fazer isto tudo. E como ainda por cima sou um gajo que não precisa de dormir muito, tento ao máximo tirar proveito das 24 horas do dia. Muitas vezes é complicado gerir trabalho, família, cansaço, descanso...mas acho que é agora que tenho de pôr uma abaixo e assegurar um bom futuro para a minha família. Ao mesmo tempo quero divertir-me a fazer o que faço e conseguir deixar o meu marco no mundo do audio.

Links para os projectos do Fred:
AT - Queres explicar aos nossos leitores como está organizado o mercado da música em Portugal? Quais são os segmentos mais valiosos e quais os grandes desafios e oportunidades? Estamos muito atrasados face a outros países?

Fred - O mercado da música está fortemente ligado à cultura de um país. E eu acho que acima de tudo, e espero não estar enganado, a cultura em Portugal está a mudar. O "ficar parado" à espera que algo aconteça está a mudar... e cresce também a tendência para consumirmos mais o que é nosso

Continuam a existir as editoras grandes que nos oferecem a mesma coisa de sempre...o mesmo género de produto. Mas por outro lado, temos editoras pequenas que vão surgindo com um produto diferente, com uma sonoridade diferente, com uma mensagem diferente, com um feeling diferente. E ai sim estamos mais próximos do que julgo ser a tendência global.

Existem cada mais mais redes de pessoas que trabalham entre elas, que se ajudam umas às outras, em prol de um objectivo comum. Estão a aparecer mais projectos nacionais de valor, com produções brutais. Projectos e artistas que arriscam por eles e pelo amor que têm à musica. E isso é muito positivo.

Na minha opinião, e falando só por factos e não gostos, temos 2 segmentos fortes, tanto nacional como internacionalmente : o Fado, por exemplo Mariza, e o Kuduro Electrónico (ou progressivo ou whatever, não gosto de classificações por género), como por exemplo Buraka Som Sistema.



São 2 produtos únicos no mundo. E qualquer coisa única, se tiver qualidade, se tiver sido bem pensada e se tiver uma boa estratégia, chega longe!

As rádios, imprensa e promotores de festivais e espectáculos têm um papel fundamental na promoção da música portuguesa. E o Governo na cultura em geral. A cultura tem sido posta de lado nos últimos anos e a arte em todas as suas vertentes não é levada a serio nem é vista como a única forma de sustento de muita gente.

Neste aspecto somos um país pobre, sem identidade, um país vazio. Este será o grande desafio... mudar a percepção que a população tem sobre a importância e o impacto que a cultura pode ter num país...

AT - Para além dos instrumentos normais, uma das peças mais importantes para criar música hoje em dia são os computadores e o próprio software! Queres explicar como usas a tecnologia no teu processo de criação artística e desvendar quais são as grandes tendências futuras nesta área?

Fred - No meu trabalho, o uso de software e tecnologia é tudo. Não podia executá-lo com a mesma qualidade, rapidez e organização se não existisse o "mundo digital". Actualmente, o software permite estarmos organizados e sermos práticos. E isso a meu ver, pode traduzir se num aumento de criatividade. E eu preciso sempre de estar organizado! O software permite qualquer pessoa gravar um disco em casa, num quarto de 4 metros quadrados, sem depender de alguém ( a não ser que queira).



São inúmeras as vantagens no processo de criar. Desde o uso de sons de bateria, a pianos e sintetizadores lendários, samplar, poder ligar a guitarra directamente ao computador e aplicar um efeito que pareça que estamos a tocar numa igreja... tudo isto está ao meu dispor...para não falar das capacidades de edição de audio que existem hoje em dia e que podem ser usadas de forma criativa
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Por outro lado, é a evolução tecnológica que permite a artistas como eu, que fazem tudo sozinhos, ter fãs nos EUA ou Austrália! São poucos, é verdade...mas cheguei lá!!! Podia ter mais se tivesse alguém a tratar da minha comunicação, imagem, se tivesse agente, etc, mas isso é outro tema :)

A tecnologia pode também trazer algumas desvantagens, como por exemplo o excesso de conforto. Conforto esse que pode fazer com que entremos numa rotina de processos e comprometer a criatividade que tanto precisamos.

A meu ver as grande tendência nesta área é o software caminhar ainda mais para a simplificação dos processos e tornar as tarefas cada vez mais eficientes!

AT - No teu processo de criação artística quais são as tuas maiores fontes de inspiração? A natureza? Barulhos urbanos? Segues a tendência? Jazz? Bossa nova? O que te inspira bem lá no fundo?

Fred - O que me inspira a criar são as minhas vivências no passado, acontecimentos do presente e o que vai ser o futuro.A minha maior fonte de inspiração é o amor, as pessoas e as experiências que retiro de ambos. (Nota da redacção: Bravo!)

Criar música é o modo que encontro para exprimir essas vivências e o modo que encontro para nunca esquecer ocasiões e situações. Em relação a tendências o meu trabalho musical tem fortes influências dos anos 80, na cena funky e groovy e toda a sonoridade dessa década. Tenho como ídolos Prince, Daft Punk e Chromeo. Prince viveu essa década e definiu-a em vários níveis, é um génio!. Daft Punk, com o albúm Discovery, foi buscar sonoridades perdidas aos anos 80 e Chromeo recriam como ninguém esses belos anos.



AT - Por fim, sei que tens um belíssimo filho chamado Francisco com menos de 2 anos. Vais tentar ensinar-lhe música no futuro? Achas que a capacidade de fazer música é genética? Ou ter bom ouvido por exemplo?

Fred - Se por acaso o seu caminho e vontade passarem pela musica, estarei lá para ele.

Não vou esconder que adorava que ele seguisse as minhas pegadas, e ainda por cima herdando todo o equipamento que tenho, podia chegar muito mais longe que eu em muito menos tempo. Mas depende de muita coisa como é óbvio. Como por exemplo de ter ouvido para a coisa como referes na pergunta.

Em parte acredito nessa historia da genética, mas também acredito muito na influência que temos sobre os outros, neste caso sobre os nossos filhos. A genética pode facilitar a coisa, mas é o que mostramos aos nossos filhos que importa. É o exemplo que damos que fica estampado no "ADN" das suas personalidades. No caso da musica se o Francisco me vê a trabalhar em musica, a tocar instrumentos, a ouvir musica, tudo isto é influência para ele.

Ele adora ir para o estúdio ver o pai a trabalhar e é incrível como dança ao ritmo ( ao ritmo mesmo) das musicas que ouve! Mal entra no estúdio vai directo às guitarras e teclados e  pede Música! Música! Carrego no play e é so dance moves.


O puto dá lhe! Olha...pode ser que tenha queda para a dança hehehe

Se por acaso o caminho dele não passar pela música quero acima de tudo apoiá-lo, estar presente e disponível para ele. Como pai e amigo.


Obrigado Fred!



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