Frederico
Campos Costa nasceu em Lisboa em 1980.
O
Fred, como os amigos lhe chamam, nasceu a 29 de Fevereiro.
Por
isso, em 2012, ele voltou a levar com a piada “Ah então só fazes
8 anos!” De 4 em 4 anos ele leva sempre com a mesma graçola.
E
nos outros anos, ninguém sabe quando lhe dar os parabéns: a 28 de
Fevereiro ou 1 de Março?
Artista
sofre... mas como ele é músico, talvez o seu próximo álbum se
possa chamar bissexto!!
O
Fred tem um talento imenso para a música. Ele sempre foi o nosso
amigo com a guitarra que tocava tudo de ouvido. Mas nunca foi aquele
maluco com autocolantes na guitarra que tocava repetidamente o mesmo
reportório.
Consegue tocar aquilo que ouve e fá-lo com uma elegância só ao
alcance dos grandes mestres. A sua paixão pela guitarra e técnica
utilizada fazem lembrar Mark Knofler, Eric Clapton ou o grande Paco
de Lucia.
Formado
em Gestão pelo ISEG, optou por seguir a carreira artística na área da música.
Pare
ele a arte “é um modo de poder expressar ideias que fazem parte
do universo das emoções e sentimentos. É algo que sai de dentro de
nós e que pode e deve ser partilhado. É algo que acrescenta e não
tira. É algo que tem a capacidade para mudar o mundo e sensibilizar
as pessoas.”
As
suas 3 grandes referências artisticas são Prince, Daft Punk e
Chromeo.
Hoje
o Artes e Tartes homenageia o Fred, tentando compreender melhor
o seu percurso e trabalho actuais.
Artes
e Tartes - Fred, a arte onde tens desenvolvido mais o teu
trabalho é na música. Lembras te quando começaste e porquê?
Fred
- Comecei o meu trabalho "mais sério" a partir de 2004
com um projecto de hip hop chamado Junior (que já foi entrevistado
no teu blog), projecto esse feito com a maior das inocências e entre
amigos. Ganhamos
um concurso de "bandas de garagem" a nível nacional
patrocinado por uma operadora de comunicações, e assinamos um
contrato de 5 anos e 3 discos com uma editora major. Perdemos a dita inocência e a piada da coisa quando assinamos esse contrato.
Este
foi o início para começar a levar isto mais a serio... mas desde os
meus 10 anos que tive bandas e era aquele gajo que levava a guitarra
para a escola. O porquê de ter começado prende-se talvez com a
necessidade e paixão que tenho em compor e produzir música.
Compor
e produzir são duas coisas diferentes. Toco guitarra desde os meus 8
anos...mas só produzo desde os 22. Se não fosse o meu
irmão provavelmente nunca teria despertado o bichinho pela produção,
pois na altura (2002 ou talvez antes) ele sacou um programa chamado
Fruity Loops que me permitiu começar a descobrir o prazer que é
gravar , registar e produzir as minhas ideias.
E
a paixão por isto nasceu...
Ás
tantas apercebi-me que podia realmente fazer algo sem depender de
alguém. Percebi que podia gravar uma ideia de guitarra, depois
acrescentar um beat, uma linha de baixo e que pouco tempo depois
tinha um som feito.
Sou
100% auto didacta tanto musicalmente como tecnicamente, mas a determinada altura resolvi aprofundar os meus conhecimentos técnicos e
após concluir a minha Licenciatura em Gestão pelo ISEG, fui viver
para Londres onde tirei o curso de engenharia de Audio pela SAE.
Optei
por esta vida, ao invés de uma vida profissional de escritório de
fato e gravata (apesar de adorar vestir fato e gravata hehehe) porque
é isto que me preenche e completa, é daqui que retiro parte da
minha felicidade e é neste meu mundo que me perco e encontro e que
nunca me deixa ficar mal.
Vivi
sempre com o medo de chegar a uma idade mais avançada e olhar para trás e pensar "Porra...adorava ter feito isto, devia ter
feito aquilo..." Por isto mesmo resolvi seguir o meu sonho.
AT
- Tu és um artista por profissão, ou seja para além da música
representar um hobbie, também já conseguiste chegar ao mercado com
o teu trabalho. Em que áreas já trabalhaste e trabalhas actualmente
seja a solo, grupo ou para terceiros? E como arranjas tempo para
todos os teus projectos?
Fred
- Actualmente sou produtor musical e sound designer na RFM.
Antes
disto trabalhei como sound designer noutra rádio. Também fui
produtor de uma empresa de gravação de dobragens e locuções na
qual tinha a meu cargo a chefia de uma equipa de técnicos e executei
alguns trabalhos de freelancing num estúdio que pertence ao Ramon
Galarza, o Tcha Tcha Tcha.
Nos
últimos 4 anos em que trabalho na RFM entro ao serviço as 6 da
manhã e saio as 2 da tarde! Para alguém que em média se deitava as
3 da manhã, este horário passou a ser o meu bem mais precioso. Nem
é o ordenado que recebo, mas sim o horário! Posso sair às 2 da
tarde, e ainda tenho o dia pela frente para trabalhar no meu estúdio,
trabalhar e colaborar noutros projectos, no verão dar um saltinho à
praia, poder ir buscar o meu filho e passar tempo com ele, ginásio,
etc
Actualmente
tenho o meu projecto chamado Cut Slack, que defino dentro do género de Electro Funk. Estou também a misturar um album de
Hip Hop, a compôr uma faixas para uns artistas emergentes no
panorama da musica nacional e ainda a montar a minha empresa de
produção para publicidade, a Sweet Spot. Para além disso
ainda estou a pensar montar uma editora independente de musica e a
acabar a fase de composição do meu álbum, que espero que saia
ainda este ano!
Já
trabalhei em publicidade, produzi uma banda sonora com o Frankie
Chavez para o filme da ZON "North Canyon" sobre a
onda gigante da Nazaré e o maluco do Garett Mcnamara e já compus e
produzi para vários artistas que depois editaram esses trabalhos.
Mas
o meu horário e organização do mesmo é a parte mais importante na
minha profissão. Com um horário normal jamais poderia fazer isto
tudo. E como ainda por cima sou um gajo que não precisa de dormir
muito, tento ao máximo tirar proveito das 24 horas do dia. Muitas
vezes é complicado gerir trabalho, família, cansaço,
descanso...mas acho que é agora que tenho de pôr uma abaixo e
assegurar um bom futuro para a minha família. Ao mesmo tempo quero
divertir-me a fazer o que faço e conseguir deixar o meu marco no
mundo do audio.
Links para os projectos do Fred:
AT
- Queres explicar aos nossos leitores como está organizado o mercado
da música em Portugal? Quais são os segmentos mais valiosos e quais
os grandes desafios e oportunidades? Estamos muito atrasados face a
outros países?
Fred
- O mercado da música está fortemente ligado à cultura de um país.
E eu acho que acima de tudo, e espero não estar enganado, a cultura
em Portugal está a mudar. O "ficar parado" à espera que
algo aconteça está a mudar... e cresce também a tendência para
consumirmos mais o que é nosso
Continuam
a existir as editoras grandes que nos oferecem a mesma coisa de
sempre...o mesmo género de produto. Mas por outro lado, temos
editoras pequenas que vão surgindo com um produto diferente, com uma
sonoridade diferente, com uma mensagem diferente, com um feeling
diferente. E ai sim estamos mais próximos do que julgo ser a
tendência global.
Existem
cada mais mais redes de pessoas que trabalham entre elas, que se
ajudam umas às outras, em prol de um objectivo comum. Estão a
aparecer mais projectos nacionais de valor, com produções brutais.
Projectos e artistas que arriscam por eles e pelo amor que têm à
musica. E isso é muito positivo.
Na
minha opinião, e falando só por factos e não gostos, temos 2
segmentos fortes, tanto nacional como internacionalmente : o Fado,
por exemplo Mariza, e o Kuduro Electrónico (ou progressivo ou
whatever, não gosto de classificações por género), como por
exemplo Buraka Som Sistema.
São
2 produtos únicos no mundo. E qualquer coisa única, se tiver
qualidade, se tiver sido bem pensada e se tiver uma boa estratégia,
chega longe!
As
rádios, imprensa e promotores de festivais e espectáculos têm um
papel fundamental na promoção da música portuguesa. E o Governo na
cultura em geral. A cultura tem sido posta de lado nos últimos anos
e a arte em todas as suas vertentes não é levada a serio nem é
vista como a única forma de sustento de muita gente.
Neste
aspecto somos um país pobre, sem identidade, um país vazio. Este
será o grande desafio... mudar a percepção que a população tem
sobre a importância e o impacto que a cultura pode ter num país...
AT
- Para além dos instrumentos normais, uma das peças mais
importantes para criar música hoje em dia são os computadores e o
próprio software! Queres explicar como usas a tecnologia no teu
processo de criação artística e desvendar quais são as grandes
tendências futuras nesta área?
Fred
- No meu trabalho, o uso de software e tecnologia é tudo. Não podia
executá-lo com a mesma qualidade, rapidez e organização se não
existisse o "mundo digital". Actualmente, o software
permite estarmos organizados e sermos práticos. E isso a meu ver,
pode traduzir se num aumento de criatividade. E eu preciso sempre de
estar organizado! O software permite qualquer pessoa gravar um disco
em casa, num quarto de 4 metros quadrados, sem depender de alguém (
a não ser que queira).
São inúmeras as vantagens no processo de criar. Desde o uso de sons de
bateria, a pianos e sintetizadores lendários, samplar, poder ligar a
guitarra directamente ao computador e aplicar um efeito que pareça
que estamos a tocar numa igreja... tudo isto está ao meu
dispor...para não falar das capacidades de edição de audio que
existem hoje em dia e que podem ser usadas de forma criativa
.
Por
outro lado, é a evolução tecnológica que permite a artistas como
eu, que fazem tudo sozinhos, ter fãs nos EUA ou Austrália! São
poucos, é verdade...mas cheguei lá!!! Podia ter mais se tivesse
alguém a tratar da minha comunicação, imagem, se tivesse agente,
etc, mas isso é outro tema :)
A
tecnologia pode também trazer algumas desvantagens, como por exemplo
o excesso de conforto. Conforto esse que pode fazer com que entremos
numa rotina de processos e comprometer a criatividade que tanto
precisamos.
A
meu ver as grande tendência nesta área é o software caminhar ainda
mais para a simplificação dos processos e tornar as tarefas cada
vez mais eficientes!
AT
- No teu processo de
criação artística quais são as tuas maiores fontes de inspiração?
A natureza? Barulhos urbanos? Segues a tendência? Jazz? Bossa nova?
O que te inspira bem lá no fundo?
Fred
- O que me inspira a criar são as minhas vivências no passado,
acontecimentos do presente e o que vai ser o futuro.A minha maior
fonte de inspiração é o amor, as pessoas e as experiências que
retiro de ambos. (Nota da redacção: Bravo!)
Criar
música é o modo que encontro para exprimir essas vivências e o
modo que encontro para nunca esquecer ocasiões e situações. Em
relação a tendências o meu trabalho musical tem fortes influências
dos anos 80, na cena funky e groovy e toda a sonoridade
dessa década. Tenho como ídolos Prince, Daft Punk e Chromeo. Prince viveu essa década e definiu-a em vários níveis, é um génio!. Daft
Punk, com o albúm Discovery, foi buscar sonoridades perdidas
aos anos 80 e Chromeo recriam como ninguém esses belos anos.
AT
- Por fim, sei que tens um belíssimo filho chamado Francisco com
menos de 2 anos. Vais tentar ensinar-lhe música no futuro? Achas que
a capacidade de fazer música é genética? Ou ter bom ouvido por
exemplo?
Fred
- Se por acaso o seu caminho e vontade passarem pela musica, estarei
lá para ele.
Não
vou esconder que adorava que ele seguisse as minhas pegadas, e ainda
por cima herdando todo o equipamento que tenho, podia chegar muito
mais longe que eu em muito menos tempo. Mas depende de muita coisa
como é óbvio. Como por exemplo de ter ouvido para a coisa como
referes na pergunta.
Em
parte acredito nessa historia da genética, mas também acredito muito
na influência que temos sobre os outros, neste caso sobre os nossos
filhos. A genética pode facilitar a coisa, mas é o que mostramos
aos nossos filhos que importa. É o exemplo que damos que fica
estampado no "ADN" das suas personalidades. No caso da
musica se o Francisco me vê a trabalhar em musica, a tocar
instrumentos, a ouvir musica, tudo isto é influência para ele.
Ele
adora ir para o estúdio ver o pai a trabalhar e é incrível como
dança ao ritmo ( ao ritmo mesmo) das musicas que ouve! Mal entra no estúdio vai directo às guitarras e teclados e só pede Música!
Música! Carrego no play e é so dance moves.
O
puto dá lhe! Olha...pode ser que tenha queda para a dança hehehe
Se
por acaso o caminho dele não passar pela música quero acima de tudo
apoiá-lo, estar presente e disponível para ele. Como pai e amigo.
Obrigado Fred!