Gabriel Garcia Marquez. Palavras para quê. O Artes e Tartes escreve hoje sobre este escritor e jornalista que morreu durante a semana passada, aos 87 anos.
Nasceu na Colômbia em 1927, mas morreu no México onde passou os últimos anos da sua vida.
Os amigos chamavam-lhe Gabo.
Em 1972 ganhou o Prémio Nobel da Literatura.
Para mim um escritor que tem a coragem de escrever um livro com o título "Memória das minhas putas tristes", merece logo um louvor. Na arte, seja ela escrita ou pintada ou cantada, não é fácil manter a genuinidade e agradar a todos. Um artista que tem a liberdade de se exprimir como quer, gosta e sabe, é aquele que conseguiu verdadeiramente explorar não só uma das condições mais difíceis da nossa existência (a do artista), mas também aquela que é a condição mais desafiante da vida: a condição do ser humano.
Sendo a arte algo que nos aproxima do sagrado e desafia a nossa consciência, Gabriel foi sem dúvida um ser iluminado.
Admiro particularmente aquelas obras literárias que têm uma primeira frase marcante. Aqueles livros cuja primeira linha da primeira página nos salta à vista. Isso acontece por exemplo com "Os Maias" e "Os Lusiadas", no expectro da literatura Portuguesa.
A frase com que Gabo inicia a sua grande obra prima "Cem anos de solidão", vai para sempre marcar a sua passagem neste mundo e o imaginário de muito milhões de leitores. Agora e por muitas centenas de anos. Enquanto houver humanidade e sentimento.
"Muitos anos depois, diante do pelotão fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendia haveria de recordar aquela tarde remota em que o seu pai o levou para conhecer o gelo".
Um dia gostava de escrever um livro. E só o farei quando tiver uma boa primeira frase.
Quando li os "Cem anos de solidão", a obra prima de Gabo, tive de fazer numa folha A4, a árvore genealógica dos Buendia. A complexidade desta família era tal, que me sentia perdido sem a tal folha a acompanhar-me! Recordo-me do barco perdido no meio da floresta. A minha imagem mental deste barco é algo que ainda hoje me acompanha. Quando recentemente viajei na Argentina, vi um daqueles barcos a vapor (género do Rio Mississipi), atolado numa floresta na província de Gualeguaychu e logo me veio à cabeça essa parte do livro!
Lembro-me também da casa dos Buendia em Macondo com as suas constantes renovações. Ou os anos de prosperidade em que o gado se multiplicava como coelhos na primavera. E o que dizer da imagem de Melquiades, o cigano que trouxe os imans e o equipamento de alquimia, surgindo ano após ano sem nunca parecer envelhecer!
Nas suas obras, pauta aquele sentimento e espirito revolucionário latino-americano que me seduz e estimula o imaginário. Sentimento esse que também é característico das obras de outros como Neruda, Vargas Llosa, Luis Sepulveda ou Isabel Allende. Histórias humanas e simples. Gerações que vão nascendo e morrendo ao longo das páginas. Locais míticos. Cheiros. Cidades e aldeias. Pobreza e prosperidade. Amor e sensualidade. Amizade e assassínios. Politica e guerra.
Gabriel Garcia Marquez foi ainda autor de algumas frases tão bonitas como:
"O segredo de uma velhice agradável consiste apenas na assinatura de um honroso pacto com a solidão".
"A vida é uma sucessão continua de oportunidades".
"É necessário abrir os olhos e perceber que as coisas boas estão dentro de nós, onde os sentimentos não precisam de motivos nem os desejos de razão. O importante é aproveitar e aprender a sua duração, pois a vida está nos olhos de quem sabe ver".
"Toda a gente quer viver em cima da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de a subir".
Obrigado Gabriel!
Sem comentários:
Enviar um comentário