segunda-feira, 21 de abril de 2014

Gabriel Garcia Marquez

Gabriel Garcia Marquez. Palavras para quê. O Artes e Tartes escreve hoje sobre este escritor e jornalista que morreu durante  a semana passada, aos 87 anos. 

                                          

Nasceu na Colômbia em 1927, mas morreu no México onde passou os últimos anos da sua vida.

Os amigos chamavam-lhe Gabo.

Em 1972 ganhou o Prémio Nobel da Literatura.

Para mim um escritor que tem a coragem de escrever um livro com o título "Memória das minhas putas tristes", merece logo um louvor. Na arte, seja ela escrita ou pintada ou cantada, não é fácil manter a genuinidade e agradar a todos. Um artista que tem a liberdade de se exprimir como quer, gosta e sabe, é aquele que conseguiu verdadeiramente explorar não só uma das condições mais difíceis da nossa existência (a do artista), mas também aquela que é a condição mais desafiante da vida: a condição do ser humano.

Sendo a arte algo que nos aproxima do sagrado e desafia a nossa consciência, Gabriel foi sem dúvida um ser iluminado.

Admiro particularmente aquelas obras literárias que têm uma primeira frase marcante. Aqueles livros cuja primeira linha da primeira página nos salta à vista. Isso acontece por exemplo com "Os Maias" e "Os Lusiadas", no expectro da literatura Portuguesa.


A frase com que Gabo inicia a sua grande obra prima "Cem anos de solidão", vai para sempre marcar a sua passagem neste mundo e o imaginário de muito milhões de leitores. Agora e por muitas centenas de anos. Enquanto houver humanidade e sentimento.

"Muitos anos depois, diante do pelotão fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendia haveria de recordar aquela tarde remota em que o seu pai o levou para conhecer o gelo".

Um dia gostava de escrever um livro. E só o farei quando tiver uma boa primeira frase.

Quando li os "Cem anos de solidão", a obra prima de Gabo, tive de fazer numa folha A4, a árvore genealógica dos Buendia. A complexidade desta família era tal, que me sentia perdido sem a tal folha a acompanhar-me! Recordo-me do barco perdido no meio da floresta. A minha imagem mental deste barco é algo que ainda hoje me acompanha. Quando recentemente viajei na Argentina, vi um daqueles barcos a vapor (género do Rio Mississipi), atolado numa floresta na província de Gualeguaychu e logo me veio à cabeça essa parte do livro!

Lembro-me também da casa dos Buendia em Macondo com as suas constantes renovações. Ou os anos de prosperidade em que o gado se multiplicava como coelhos na primavera. E o que dizer da imagem de Melquiades, o cigano que trouxe os imans e o equipamento de alquimia, surgindo ano após ano sem nunca parecer envelhecer!

                                             

Nas suas obras, pauta aquele sentimento e espirito revolucionário latino-americano que me seduz e estimula o imaginário. Sentimento esse que também é característico das obras de outros como Neruda, Vargas Llosa, Luis Sepulveda ou Isabel Allende. Histórias humanas e simples. Gerações que vão nascendo e morrendo ao longo das páginas. Locais míticos. Cheiros. Cidades e aldeias. Pobreza e prosperidade. Amor e sensualidade. Amizade e assassínios. Politica e guerra.

Gabriel Garcia Marquez foi ainda autor de algumas frases tão bonitas como:

"O segredo de uma velhice agradável consiste apenas na assinatura de um honroso pacto com a solidão".

"A vida é uma sucessão continua de oportunidades".

"É necessário abrir os olhos e perceber que as coisas boas estão dentro de nós, onde os sentimentos não precisam de motivos nem os desejos de razão. O importante é aproveitar e aprender a sua duração, pois a vida está nos olhos de quem sabe ver".

"Toda a gente quer viver em cima da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de a subir".

Obrigado Gabriel!


Sem comentários:

Enviar um comentário