Ana de Sá Nogueira é uma Lisboeta nativa do signo Touro.
Ela diz que não é artista. Mas o que dizer de alguém que nos últimos 15 anos ofereceu centenas de quadros, bandas desenhadas e desenhos aos seus amigos? Dona de um coração generoso e melhor amiga de muitos amigos, encontrou nas artes uma forma de expressar o seu amor.
Hoje o Artes e Tartes homenageia esta artista, tentando conhecer melhor as suas fontes de inspiração e pensamentos sobre a arte!
Artes e Tartes - Ana, podes indicar-nos os teus 3 maiores artistas de referência?
Ana - Começo por dizer que não sou conhecedora de arte e não tenho dotes
artísticos (Nota do Entrevistador: "Lá está ela..."). Mas vou falar em pintura pois é o que mais gosto dentro das Artes.
É-me difícil avaliar as “referências” de pintura, já que gosto de um milhão de
quadros e sempre de autores diferentes.. Para mim um bom artista tanto pode ser
um dos top como o meu melhor amigo ;) Acho que tem a ver com a forma como a
arte te “bate” naquilo que tu és como pessoa. Ou seja, não é a técnica, o
estilo deste ou aquele pintor, é mais o que aquela pintura mexeu contigo, o
sentimento que te provocou e como te identificaste com ela. Por isso as
referências que tenho são muito mais “emocionais”. Mas sinto que tenho uma
“queda” para o Naif. Principalmente porque acho que os meus quadros são também
muito simples e por isso me identifico e percebo o Naif. Não precisa de técnica
ou estilo. É sentir, pintar, contar uma história e ter muita cor!
Uma grande referência deste tipo de arte é o Henri Rousseau. Sempre senti que os quadros dele têm uma história por contar..
uma selva.. um animal escondido, o imaginário, um misticismo que se sente
imediatamente ao olhar para o quadro, (sinto-o como o Mia Couto, por exemplo.
Se o Rousseau pudesse ilustrar hoje livros, seriam os do Mia couto).
Depois temos claro a Frida Khalo, outra referência que já enjoa
porque todos a amam. Mas é isso mesmo! É a história, é a forma como ela põe a
sua vida nos quadros que pinta. Não têm profundidade, técnica, não são quadros
Realistas e no entanto dão-nos uma grande dose de realidade! Amor, paixão,
medo, dor...
E agora uns actuais menos conhecidos como Ricardo
Cavolo, Kevin Sloan e Sandra Dieckmann.. Desculpa,
não consigo dizer só 3! Todos com cor, força, natureza, significado..quadros
que nos façam respirar mais fundo.
AT - Numa frase, para ti o que é a arte?
Ana - É
a mão invisível que te entra pelo cérebro, te desce pelas veias, vai lá ao
fundo e tira cá para fora o que é autêntico. Isso é Arte.
AT - Como descreverias a
sensação de ver uma peça de arte bonita? Seja ela uma música, uma poesia, uma
tela, etc..
Ana - É
espontâneo. Sentes que colou contigo. Tirou-te o fôlego. Prendeu-te ali e
sentiste uma data de coisas que te ligaram a ela. Não precisa de ser uma
música, uma poesia..encontras arte em muito mais. Na natureza! Já viste o
power de uma nebula? No simples, nas nuvens, no interior de um peixe das
profundezas..
AT - Achas que uma pessoa nasce
artista ou tem de ser obrigatoriamente estimulada e formada?
Ana - Acho que todos temos alguma
coisa única dentro de nós, mas tenho a certeza que só quando a exploramos ela
se transforma em arte. Uns precisam de ajuda para trabalhar a sua arte (
formação) outros conseguem fazê-lo sozinho.. mas sim, deves sempre estimular o
artista que há em ti. O género de artista nasce só depois dessa exploração.
AT - Sempre tiveste uma grande paixão pelo desenho e pintura, lembras te do
momento em que te apercebeste que o gostavas de fazer? Quais foram os maiores
estímulos artísticos que recebeste? Escola, família ou auto didacta?
Ana - Não
tenho boa memória, não me lembro de ter “começado”.. sempre fiz desenhos,
bandas desenhadas aos meus namorados e quadros para oferecer à família nos
aniversários. Mas lembro-me quando o deixei de fazer.. escolhes um certo
caminho de estudos quando tens de enveredar por uma via profissional e deixas
de lado estas coisas que gostas de fazer pelo “bem do teu futuro”. Nunca me
estimularam muito a explorar seriamente esta veia. Só como hobbie. Sempre achei
que era só uma coisinha com graça que eu fazia.. Hoje em dia arrependo-me de
ter a posto de lado... E percebi que não dá mais para fugir dela. Para me
manter uma pessoa sã, hoje em dia, tenho de continuar esta paixão, em todos os
momentos livres possíveis.
Ana - Porque
como pintora “profissionalissima” que sou, não consigo estar muito tempo a
pintar um quadro. Surge-me a ideia, pinto.. o acrílico seca rápido logo
consegues chegar ao teu objectivo mais depressa. Óleo fica mais bonito, mas não
tenho paciência!
Alguns dos trabalhos da Ana
Ana - Não
acho que as pessoas gostem sempre de receber arte. A arte é muito pessoal por
vezes recebem e não gostam. Eu surpreendo-me de gostarem dos meus rabiscos no
papel.. mas acho que dão valor porque é feito com amor. E isso nota-se mesmo no
traço mais torto. E também porque tento sempre colocar alguma coisa da nossa
vivência, da nossa história. Se desse uma tela com uns rabiscos, sem
significado, não seria a mesma coisa.
AT - Por fim, soube que tal como o
André Mateus (sobre quem falamos há duas semanas), tens uma paixão secreta pela
Banda Desenhada. Também já te vi associada a uma pequena curta metragem e em
projectos de fotografia. Tens mais alguns projectos ou paixões debaixo da manga
e que queiras revelar? Os nossos leitores também gostavam de saber se há outras
áreas artísticas em que ainda gostavas de envolver no futuro?
Ana - Sim, neste momento acordei para a vida e estou a recuperar tempo perdido a experimentar
várias vertentes artísticas. A banda
desenhada e a ilustração de livros para crianças é algo que me apetece explorar
mais. Adoro a história por trás da imagem. Como quando nos contam algo e ao
mesmo tempo criamos todas as imagens na nossa cabeça. Gosto dessa parte
imaginativa de ilustrar palavras e coisas que queremos dizer. Sim. Acho que é a isto que me vou tentar
dedicar agora. Vamos ver como corre.
Obrigado Ana!
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