João Pedro
Fernandes (Jota para os amigos), nasceu em 1982, em Lisboa.
O João é
formado em Gestão de Empresas na Universidade Católica e neste momento é
Sócio/Director da 2East – Marketing de Bebidas e Eventos Ltda em São Paulo
Brasil!
No que toca
às artes e tartes, o Jota é um artista desde as unhas dos pés até à ponta dos cabelos!!
Pare ele a arte é “a capacidade que,
alguma coisa criada por outra pessoa, tem de mexer comigo ao nível emocional
e/ou racional!”
Apaixonado
por música e também por outras e diversas artes, este nativo do signo
Caranguejo fez parte de uma banda chamada Manif3estos. Nesta entrevista ele
conta-nos a história toda!
Os seus 3
artistas de referência (com explicação incluída), são:
Sérgio
Godinho - Desde que me lembro de ouvir
música que este nome está sempre presente! Talvez seja o primeiro “rapper” que
eu ouvi! Um cantautor incrível! Uma inspiração na arte de escrever! Tenho os discos
todos dele na minha playlist e sempre que oiço descubro novos significados nas
suas descrições e relatos! Talvez a minha maior e mais antiga referência a
nível nacional!
Bob Marley -
Nunca me canso de o ouvir! (Re)Descubro
frequentemente temas dele pelos quais me apaixono por longos períodos… depois
(re)descubro outro…e outro... e por aí fora! Passou-nos, através da música e
das letras, mensagens incríveis que serão, na minha opinião, inspiração para
muitos músicos e artistas para sempre! Acho que ainda me inspira todos os dias
na minha maneira de ser e de ver muitas das coisas do dia-a-dia!
Ana Moura - Apesar de ser um nome relativamente recente
na música nacional, acho que lhe devo (em conjunto com o Jorge Fernando) o que
hoje em dia conheço do Fado! Foi através dos primeiros discos dela que a
curiosidade em conhecer as raízes da música mais portuguesa de todas me surgiu!
A partir do momento que a ouvir a cantar “Sou do Fado, Sou Fadista” senti que
aquilo me dizia muito e que precisava urgentemente de conhecer mais o Fado… até
hoje oiço regularmente diversos Fadistas, da velha e nova geração, por conta
desse momento!
Hoje o Artes
e Tartes apresenta os pensamentos do João sobre diversos temas relacionados com
as artes. Uma das melhores entrevistas até agora com respostas muito
esclarecedoras e informadas. Um tratado sobre a condição do ser artista.
AT - Olá João, queres explicar aos nossos leitores em
que áreas artísticas tens desenvolvido o teu trabalho? No fundo,
sei que tens uma ligação à música, mas quais são os outros interesses
artísticos, ou seja artes que gostes, que já tenhas praticado ou que ainda
sonhas vir a praticar?
O que sempre
gostei e continuo a gostar de fazer é escrever e ouvir música! Escrever textos
ou poesias para músicas! Dá-me gozo escrever porque tenho necessidade de me
expressar sobre algum tema, porque me surgiu alguma ideia ou por desafio de
alguém que procura um tema específico. Esta foi a minha primeira ligação às
artes, se assim se pode chamar, e é a que mantenho neste momento.
A minha
ligação à música sempre foi muito mais recreativa do que profissional. Ou seja,
à parte de ser um ávido consumidor, todos os projetos que tive sempre foram
muito mais pelo convívio com amigos e pela diversão do que propriamente pela
carreira mas, é claro que se sonha sempre com algo mais quando se faz música!
Por outro lado, desde 2005 que faço parte de uma área profissional ligada à
música, que foi o ano em que entrei para uma produtora/agência e onde estive
diretamente envolvido com a produção de eventos e o agenciamento de artistas.
Hoje, apesar de estar numa área mais relacionada com a prestação de serviços
para eventos, continuo a frequentar festivais e concertos no meu dia-a-dia
profissional! É a área em que sempre sonhei trabalhar e felizmente consegui até
hoje manter esse sonho!
Por toda
esta ligação que tenho à música espero, pelo menos um dia, conseguir tocar
alguns dos temas que escrevi em viola ou teclas que foi coisa que nunca
aprendi… recentemente quase me inscrevi em lições de piano mas acabei por me
aperceber que ainda não era desta que tinha o tempo necessário para o fazer!
Quem sabe um dia...
Para além da
música sou também um fã incondicional de outras artes... Adoro grafitis! Adoro
dança! Adoro fotografia! Apesar de não ter jeito para nenhum deles sou um
admirador confesso dos três! : )
AT - Fizeste parte de uma banda chamada
Manif3stos. Queres contar-nos um pouco da história da banda? Como
começou? Quem eram os elementos? Como acabou?
Os
Manif3stos foi um dos melhores projetos da minha vida! Entre amigos conseguimos
fazer uma coisa que virou semi-profissional e que nos permitiu ter uma
experiência de vida única! Só tenho boas memórias desses tempos!
Começou tudo
no seguimento de projetos a solo de cada um dos membros. Virou uma banda de Hip
Hop com Reggae/Soul que começou em 2005 e terminou em 2011!

Eu tinha um
projeto de Hip Hop e convidei o David Pessoa para fazer um refrão de um tema
que se chamava “Liberdade” (acabou por se chamar “Nós Fazemos”). A coisa
soou-nos bem e pouco tempo depois fizemos outro tema que se chamava “Medalha de
Honra” também no mesmo formato. Entretanto o Telmo Santana convida-nos para
participar-mos numa mixtape que ele estava a fazer só com pessoal de Carcavelos
e foi onde nos juntamos os quatro (com o João Santana) e fizemos mais dois
temas. Percebemos que tínhamos ali muita química musical e rapidamente surgiu
mais um que foi o "Valeu a pena tudo”. Apresentámos estes temas todos, em
conjunto com mais uns 5 que eu tinha, no 7º Festival Musa em Carcavelos ainda
com o nome do meu projeto a solo - neste concerto também participou o Junior
com um tema que tínhamos os dois e ele ainda me deu uma grande força em alguns
temas em que eu estava menos à vontade! Foi o primeiro passo em grupo! De
repente tínhamos 3 vozes e 1 produtor! Começamos a juntar os temas todos,
refizemos alguns, construímos outros e em Setembro de 2005 apresentámos, no
antigo Sports Bar na praia de Carcavelos, o primeiro concerto de Manif3stos!
Tocámos em "casa" para um bom grupo de amigos!

Daí até
fazermos 16 temas, a tocarmos em vários bares e a recebermos pequenos cachets
que deram para gravarmos o disco foi mais ou menos 1 ano. No verão de 2007
gravámos o “Gerasons" no BlackSheep Studios e contámos com participações
muito boas como a do Dany Silva, do Sagaz, do Tranquilo e do Dj Kwan. Em
Novembro lançámos o disco no espaço Tuatara para uma família de cerca de 300
pessoas! Foram 2 anos de concertos muito bons de onde se destacam o Festival
Sudoeste, o Superbock Surf Fest, a Casa Da Música, Santiago Alquimista e
algumas queimas/recepções ao caloiro grandes. O saldo foi muito positivo e mais
que tudo a nossa amizade saiu reforçada!
Entre o
final 2009 e o início de 2011 tocámos muito pouco, talvez umas 4 ou 5 vezes, e
tivemos mais dedicados cada um às suas vidas profissionais ou outros projetos!
Em 2011
recomeçamos as escritas e as produções e, já com o segundo álbum praticamente
todo pronto - produzido pelo Duarte Ornelas e gravado pelos músicos Pedro
Tatanka, Miguel Casais e Ciro Cruz dos Balck Mamba - surgiu-me a oportunidade
de montar uma sociedade no Brasil e acabei por deixar o projecto e dedicar-me a
uma empresa minha que era também um sonho antigo! Apesar de não poder dizer que
me arrependo digo muitas vezes que tenho muitas saudades e fica sempre a dúvida
de como iria correr o novo disco! Tenho pena que os temas não tenham saído mas
sei que uns serão muito bem reaproveitados num futuro próximo! ;)
Nota da redacção: o Jota enviou para o nosso blog, uma música nova que nunca foi editada em albúm. Um exclusivo do Artes e Tartes. Segue o link:
https://www.youtube.com/watch?v=IoR-_s_ttFU&feature=youtu.be
Entretanto...
O Telmo
Santana (Modo Fractal - https://soundcloud.com/modofractal) continua a produzir instrumentais
em outros registos nos quais trabalhava já na altura.
AT - Como foi o vosso melhor concerto? Onde e
quando? Porque foi o melhor?
Difícil…
muitos tiveram as suas razões para serem especiais!
Talvez
destaque o lançamento do nosso disco “Gerasons”, feito no espaço Tuatara em
Novembro de 2007! Apesar de ser possivelmente o lugar onde tocámos que menos
tinha a ver com a nossa música, acho que foi a vez em que conseguimos juntar no
mesmo espaço toda a nossa "família”!
Quando digo “família” refiro-me à de sangue
e à outra que escolhemos para fazerem parte da nossa vida pelos fortes laços de
amizade existentes! Todas as caras eram conhecidas e todas as pessoas sabiam o
porquê de cada letra e isso deu ao concerto uma intimidade muito própria. O
“Passando a lição” (link abaixo), tocado nessa noite vai ficar para sempre na minha memória
pois aquele foi o dia em que fez mais sentido cantar essa música! O verdadeiro
arrepio na espinha!
https://www.youtube.com/watch?v=jM0BPIw9rAE
AT - Achas que as pessoas já nascem artistas ou faz
tudo parte das influências a que somos expostos? Lembras-te do momento em que
te apercebeste que tinhas uma sensibilidade artística? Foi na escola? Foi em
casa? Grupo de amigos?
Acho que
podes nascer com um talento e à partida isso vai ajudar a que o caminho seja
mais fácil de trilhar mas eu, pessoalmente, não acredito que o talento seja
suficiente para se chegar a algum lado! A minha curta passagem pela música e o
meu médio percurso na área dos eventos, onde pude lidar com muitos artistas
diferentes, faz-me ver que é preciso uma dedicação muito grande e um espirito
de sacrifício ainda maior para se conseguir atingir o sucesso! Não basta saber
cantar, tocar, pintar, dançar… não! É preciso treinar e praticar muito, é
preciso ter muita força de vontade para esbarrar em paredes e ter força para
continuar, é preciso investigar e ouvir muito, é preciso ter cuidados ao nível
da saúde, é preciso sacrificar muitas vezes a vida pessoal, etc! Acredito que a
partir do momento que se decide ser artista passa-se a ser profissional dessa
área e, para seres bom, tens de te dedicar a ela tanto como a qualquer outro
ramo de atividade… até mais porque o mundo das artes é um "mundo
cão"!
Eu tive a
sorte de ter uns pais que sempre foram muito atentos e curiosos sobre as mais
diferentes formas de arte. Eles desafiavam-nos, a mim e a minha irmã, para os
acompanharmos e davam-nos a conhecer músicos, pintores, poetas/escritores que
fizessem parte da história, da adolescência deles ou que estivessem naquela
altura em destaque por algum motivo.
A música era
uma companheira habitual em nossa casa e ganhava um espaço de destaque nas
manhãs de sábado e domingo desde que eu me lembro. Por outro lado os livros
eram mais que muitos e acabava por surgir sempre alguma curiosidade em ler
alguma coisa de algum autor que se falou em família. Nem sempre foi fácil
porque passas sempre algumas fases em que achas que tudo o que fazes com os
teus pais é uma seca e queres mais é dormir, jogar à bola, sair à noite ou
simplesmente estar com os amigos e fora de casa!
À medida que
a idade avança começas a entender como foram valiosos aqueles momentos e
quantas foram as aprendizagens que trouxeste em termos culturais! Lembro-me de
ouvir os Cd’s “Luz” e “Lilás” do Djavan, que são discos da minha idade, após o
regresso do meu Pai dos EUA em meados de 1987. Lembro-me muito bem de ouvir o
"FMI" do José Mário Branco e não conseguir sequer entender qual era a
força daquele texto! Lembro-me de ver o “Sobreviventes” do Sérgio Godinho e o
“Caetano e Chico - juntos ao vivo” do Caetano Veloso e do Chico Buarque a
tocarem em vinil. Lembro-me do “Mingos e Samurais” do Rui Veloso e do “Rock in
Rio Douro” dos GNR a servirem de banda sonora das viagens de férias. Lembro-me
do primeiro concerto que vi, que foi no Coliseu de Lisboa, que foi o James
Taylor em meados dos anos 90. Tenho muita música no ouvido por conta disso!

Acho que o
meu gosto pela música e meu despertar para escrita surgem nessa altura. O
interesse pela poesia desenvolve-se com o “O meu primeiro livro de poesia” da
Sophia de Mello Breyner, devia eu ter uns 10/12 anos talvez. Após isto acho que
comecei a rabiscar pequenos poemas e mais tarde, com cerca de 14 anos e como
não sabia tocar nenhum instrumento, escrevi uma música para um amigo que tocava
guitarra poder cantar! Depois disto ganhei o gosto e fazia pequenas letras para
eu mesmo cantar com melodias inventadas por mim, mas sem qualquer concretização
pois eu gostava muito mais de jogar futebol do que aprender um instrumento!
Talvez hoje fosse diferente…
Passados
alguns tempos, um amigo apresentou-me um programa básico que era muito
intuitivo para montar uns beats, e ficou mais fácil escrever e gravar com um
micro de computador as ideias que me iam surgindo! Acho que a primeira letra com
música que fiz devia ter uns 14 ou 15 anos. Depois foi só ir evoluindo de
programas e escrevendo mais e mais até chegar ao primeiro projeto a solo e aos
Manif3stos!
AT - Com que artista (vivo ou morto) gostarias de
jantar e porquê?
Acho que
mais do que jantar gostava de poder viver alguns concertos que já não serão
possíveis de ver. Acho que é no palco que consegues conhecer melhor o artista!
Tenho tido a
sorte de ao longo dos anos conseguir fazer alguns “checks” na lista de concertos
que sonhava ver mas faltaram-me, entre outros claro, Michael Jackson e Bob
Marley. Se pudesse escolher apenas um deles seria claramente o de Bob Marley…
AT - Por fim, o Artes e Tartes sabe que neste momento
vives em São Paulo, no Brasil. Qual tem sido a tua ligação com a cultura
Brasileira? E qual é a tua opinião sobre a situação cultural no Brasil no
presente?
Desde
pequeno, como mencionei antes, que a música brasileira - seja o Samba, a Bossa
Nova, o Forró ou a MPB - fez parte da minha educação musical! As novelas que
passavam abundantemente em PT também ajudaram a que o sotaque e a musicalidade
fosse sendo mais familiar! Hoje, mais do que nunca, sou um fã da música
brasileira! Desde as músicas de raiz até às que fazem parte das sonoridades
mais universais! Quando cheguei a SP não tinha ideia que em cada esquina tu
podias ouvir música e música de qualidade. Qualquer brasileiro sabe tocar pelo
menos um instrumento - e bem! Não sabia que a quantidade de concertos e de
diversidades musicais que viria a encontrar era tão vasta! Sinto-me um
privilegiado por poder viver isso!
Os
brasileiros são verdadeiros conhecedores das raízes das suas músicas e não há
qualquer vergonha em se gostar de coisas mais populares ou de coisas mais
mainstream. O carnaval, por exemplo, toca todo o tipo de músicas, das mais
antigas às mais recentes do samba, e tu vês que mesmo os mais novos sabem de
cor as letras da canções com mais história! Sente-se que isso é passado em
casa! É incrível como a música faz parte da vida deles! É cultural!
Não param de
surgir novos nomes em todas os estilos mas os mais antigos (mesmo os que já não
estão entre nós) continuam com o seu espaço respeitado seja nas Tv’s, rádios,
em versões cover ou pelas mãos de Djs! Espero que Portugal evolua nesse sentido,
dando espaço aos novos artistas pois eles precisam de “montra” mas dando sempre
algum espaço à história! Sinto que há pouco espaço no mercado Português para os
novos talentos mas aos poucos isso vai mudar o que não significa que se deixe
de dar espaço aos mais antigos… é um processo normal e cada um deverá ocupar o
seu espaço!
Aproveito
para, em tom de agradecimento e despedida, deixar alguns nomes que têm feito
parte das minhas mais recentes playlists brasileiras… muitos já conhecem mas
podem ser boas pesquisas para que outros!
Alguns da
velha guarda:
- Adoniran Barbosa (https://www.youtube.com/watch?v=ceBdGz3eTFg)
- Novos Baianos (https://www.youtube.com/watch?v=VSM4AnFfnAI)
- Paulinho da Viola (https://www.youtube.com/watch?v=VKzpytpVbfU)
- Baden Powell (https://www.youtube.com/watch?v=GGoca5m-loY)
- Dominguinhos (https://www.youtube.com/watch?v=EpyY_Z797UE)
Alguns da
nova geração:
- Mariana Aydar (https://www.youtube.com/watch?v=1wzeMnhXMlE)
- Criolo (https://www.youtube.com/watch?v=Gsrr4AAEVso)
- Emicida (https://www.youtube.com/watch?v=GZgnl5Ocuh8)
- Tulipa Ruiz (https://www.youtube.com/watch?v=3cfVHYIzvik)
- Marcelo Jeneci (https://www.youtube.com/watch?v=qaFYwQS8gQQ)
Obrigado
João!